domingo, 14 de junho de 2009

Natureza



Anseio pela natureza, anseio por estar estendido em prados verdejantes, por ser engolido pela sombra das árvores num dia de sol abrasador. Quero ver planícies verdes, quero estar dentro de bosques habitados por um exército de árvores onde quase vejo e oiço as fadas à minha volta. Quero estar em penhascos cercados pela imensidão do azul do mar. Quero respirar o ar verdadeiro que ela emite, quero sujar-me de verde e terra, quero caminhar sobre ela, quero simplesmente repousar nela e deixar-me invadir pela mais verdadeira e natural beleza que existe neste mundo, quero ficar especado a olhar para o esplendor que me transmite. Só na natureza estou completamente tranquilo, tem o poder de apaziguar e acalmar o desenfrear de pensamento constante que corre na minha cabeça. Apetece-me constantemente fugir para ela, deixar pelo menos por um momento este maldito ambiente de colossos de betão, cimento e alcatrão, povoado de fumo, sujidade e decadência humana. A natureza é pura e verdadeira..., quero fugir para ela, fogo...alguém me acompanhe.

Música



A música é o meu amor sempre presente, e não vivia sem ela. Conforta-me, define-me, é a exorcista de todos os demónios que eu possa ter dentro de mim. Alguns podem dizer-me que a música que ouço é muito barulhenta ou violenta, mas eu preciso de guitarras a rasgar o espectro sonoro, da aceleração alucinante ou ritmo selvagem de uma bateria, de vozes a dilacerarem as cordas vocais. Preciso de sentir essa intensidade de emoção crua, essa forma de expressão e libertação de energia. É o que me purga e desfaz a negatividade e a raiva que às vezes as coisas da vida me metem pelo espírito adentro, é o que diz à minha alma "eu conheço-te". Às vezes há músicas que me parece que são a planície dos meus pensamentos traduzida em som. É minha confessora, minha terapeuta, minha amiga, meu espelho, é a luva que assenta na minha maneira de ser e à qual sou inteiramente fiel, é a que me faz realmente pulsar e sentir algo no sangue a ferver e tudo o que é negro a sair. É poder e paixão, é raiva e selvajaria, é emoção contagiante, é o desintegrar do meu ser em notas farpadas de som.

Amor


Luis de Camões diz que amor é fogo que arde sem se ver, compreendo tão bem esta frase, amor é um fogo que toma conta de todo o corpo, que passa a ocupar a alma e a ser o cocheiro da carruagem do pensamento. Amor é ficar sem saber o que dizer quando o sabemos em todas as outras situações, é ficar sem saber o que fazer quando normalmente saberíamos, é sentir um fogo tão forte e vivo que nos põe em ebulição de tal forma que ficamos presos em nós e só nos queremos libertar. Amar é desejar ter a alma de quem se ama junto à nossa, é fazer coisas que nunca pensámos fazer, é querer levar quem amamos aos sítios mais belos que possamos descobrir porque com ela sentimos a verdadeira essência dessa beleza, é sentir a pessoa perto de nós e saber que ela está lá e que não se está sozinho, porque ás vezes mesmo no meio de mil gentes estamos sozinhos...Amar é sentir alguém que nos compreende e que compreendemos, com quem queremos partilhar momentos porque se tornam tão mais verdadeiros, é olhar para o lado e ver a pessoa e acarinhá-la só porque sim...porque ela está ali. É ser capaz de simplesmente olhar para a pessoa tempo indefinido porque tem uma aura de beleza que irradia e contrasta de tudo o resto, é ver a pessoa a dormir e querer dar um beijo sem a acordar. O amor é o que nos faz sentir leveza na vida, é sentir que pode vir tudo porque o importante é que se ama alguém..., é sentir que mesmo ao frio e à chuva estar abraçado e agarrado a quem amamos é mais confortante do que sozinho debaixo de qualquer tecto de uma casa. É sentir que mesmo no escuro quem amamos vai sempre ser uma luz, é querer apoiar a pessoa e ajudá-la sem qualquer interesse mas por pura espontaneidade, é jurar que nunca se vai deixar que aconteça nada de mal a quem amamos e que se for preciso aparecem-nos forças que não conhecíamos para tal.
Se calhar sinto com demasiada intensidade o amor, mesmo se calhar sem o saber expressar facilmente, a verdade é que me percorre completamente e me tira a lucidez, tolda-me os sentidos interiores, porque para mim o amor é verdadeiro, é puro, é um sentimento ao rubro, não compreendo o calculismo e a racionalidade aplicada a ele por tanta gente...O amor é para se sentir e viver, não é para enquadrar, ou ponderar, não é para "mas e se isto, mas e se aquilo, mas não sei, bem mas vive perto, bem e tem dinheiro, e faz alguma coisa? Ah mas eu queria alguém assim e assado, ah mas não encaixa no meu perfil", no amor tudo isto devia ser deixado de fora...Sempre tive com ou gostei de alguém simplesmente por me apaixonar, nunca procurei estar com alguém só por estar, ou porque queria alguém de determinada forma, ou porque era conveniente, não me importa, o que me importa é alguém que me faça sentir algo que não sinta nas outras pessoas, que se torna especial para mim, que tem algo na forma como se movimenta, como olha, como age, como fala e do que fala, na simples presença, que adore e me atraia e me faça sentir quente por dentro. Não é isso o amor? Será que as pessoas não sentem ou percebem isso? Quando vejo casais juntos sem calor entre eles fico triste, e fico feliz quando vejo casais que sorriem quando se olham. Não sei..., se isto não é o amor então estou condenado a deixar sempre este fogo interior definhar a derreter corações que são congelados eternamente porque para mim o amor é algo puro e real afastado da frieza racional. Faz-me confusão como são poucas as pessoas que sentem isso.

Viver

Atrofia-me a forma como muitas pessoas encaram a vida, por vezes parecem formigas a desempenharem uma função, sem pararem para pensar no que é viver. Para mim viver não se reduz a andar por ai. Viver é muito mais, viver é sentir a intensidade avassaladora de cada toque, de cada visão, de cada audição, de cada sentimento e emoção. É apreciar e sentir cada movimento, som, cor e luz do que está dentro de nós e à nossa volta, é estar num campo verde e notar a textura da relva, é estar atento ao baloiçar das árvores sob a força do vento, é fechar os olhos e sentir o prazer do toque quente e apaziguador do sol na pele, é deixar o som da orquestra de pássaros e leves brisas dominarem a planície do nosso pensamento. É simplesmente dar valor a cada pequeno momento, desde o acordar até ao abraçar do leito da noite. É olhar para um céu nocturno recheado de estrelas e ficar abismado pela magia invisível que nos percorre.
Viver é embriagante, é uma intensidade que me deixa confuso com tudo o que quero ver, tudo o que quero sentir, todos os lugares onde quero ir, todas as pessoas que quero conhecer e com que quero estar, todo e cada simples passo que quero dar. Chego a ficar triste por a vida ser demasiado curta para apreciar até à mínima gota de pormenor o lago da vida do qual tenho tanta sede.
Viver é sentir o calor dos semelhantes a nós, dos elementos errantes a que chamamos pessoas. É querer conhecer, é dar atenção a cada partilha de experiências, de personalidades, de sorrisos, e mesmo de chorares. Cada pessoa é tão única, tão especial, e é tão bom sentir o esboçar de um sorriso, o fluir do que uma pessoa nos quer transmitir quando fala connosco, até mesmo a sensação de poder ajudar alguém que está menos bem. É tão fascinante observar os diferentes traços expressivos de cada pessoa, a forma como se movimentam, como falam, como agem, o que têm para transmitir e as almas que têm. Eu adoro pessoas, só não gosto das que vejo como más para as outras, mas essas eu desprezo.
Não entendo como se perde a atenção para tais coisas, não entendo como se perde o valor delas. Não entendo a existência da espada afiada da depressão e da melancolia que nos tentam cortar as ligações à corrente luminosa da vida, mesmo quando as estou a sentir. Talvez por isso me provoquem tanta dor, porque não as compreendo, e eu odeio dor..., e fujo dela..., "tu e toda a gente" me diriam..., mas eu vejo pessoas que ficam viciadas na dor..., e não entendo...Eu não sou cego, nem ingénuo, nem tento pintar um quadro arco-íris do mundo. Eu sei que nem tudo é um mar de rosas, existem coisas más no mundo, horríveis mesmo. Dor, angústia, vidas complicadas, pobreza, pessoas más, violência, e também levamos com elas no nosso percurso...Mas será que é nisto que devemos pensar? Não seria melhor tentar não esquecer todos os pontos maravilhosos da vida de forma a não nos afundarmos nos maus? Às vezes vejo nos olhos de algumas pessoas tanta tristeza que me faz querer expressar-lhes tudo isto de alguma forma. Talvez se todos nos lembrássemos pelo menos de vez em quando da luz que existe na vida conseguíssemos diminuir as sombras que também nela co-existem.